"suicidamo-nos quando damos uma opinião e assinamos abaixo"

- Há algo mais que tu ou que vocês gostariam de falar sobre o medo?

- Poderíamos fazer teses sobre o medo. Na verdade, há um livro que chama A história do medo no Ocidente, que é uma referência. Mas de um modo bem geral, geral mesmo, sendo até mesquinhos em reduzir o assunto a esse espectro, podemos que dizer que o medo é esse vácuo escuro que trepida nos nossos interstícios. O medo, os medos, é uma eletricidade que produz tensão. Ou não: pode ser um gelo seco, o silêncio da mente. É inútil tentar achar uma identidade para o medo, justamente porque é próprio do medo não poder ser reconhecido em uma definição só. (silêncio). Sinto medo ao pensar que alguém pode ler isto tudo que estou falando pra ti agora, e sinto mais medo ainda ao pensar que isso tudo não interessa a ninguém (risos). Medo é isso: tentar achar uma saída e continuar preso no mesmo lugar. Sentimos medo da separação, da exclusão, do ciúme, da inveja, da morte: morremos quando damos uma opinião; suicidamo-nos quando damos uma opinião e assinamos abaixo. Tu me deixarias se tu pudesses? Claro que sim, e claro que não! Nós valemos a pena! (gargalhadas). Não há como prever o fim de nós dois. A imprevisibilidade, a impossibilidade de controlar o futuro, é a maloca do medo.