A minha geração

Tornamo-nos uma geração exemplarmente perdida. O barco que nos leva a atravessar o quase insuportável mar da vivência e da convivência está sem proa, sem leme, e só nos damos por conta disso agora. Os que vieram antes de nós nos deixaram assim, sem capitão, e jogaram nossas vidas para uma existência pirata. Não só eles têm a culpa de agora vagarmos sem rumo por essas águas violentas; também nós nos deixamos sós, sozinhos um do outro, cada um mais egocêntrico que o próximo e contemplando, maravilhados, a engenharia suntuosa com que as gerações antigas construíram nosso barco. Abandonamos as rotas de descobrimento, de reconhecimento e de colonização. Tornamo-nos uma geração essencialmente turística. Não nos responsabilizamos pelo destino de nenhum de nós porque estamos todos muito menos preocupados com a sociedade que com nossas próprias vidas. Pergunto-me onde foi que erramos, ou onde foi que erraram por nós; pergunto-me onde foi que nos perdemos, ou por causa de que nos deram o caminho equivocado a seguir. Somos, sem dúvidas, a geração mais apática de que se tem notícia. Contamos com uma tecnologia de ponta para guiar nosso barco, motores potentes para levá-lo a qualquer lugar. No entanto, sequer temos a iniciativa de levantar as velas para quê, pelo menos, o vento nos dê a direção. Não jogamos a âncora ao mar, fincando ali nosso espaço; contudo, também não remamos adiante. Estamos aqui parados por preguiça e deixamos que figuras velhas e gastas escrevam a estória de nosso tempo, de nossa época.
Coisa essa que é nossa responsabilidade.