O que há de novo sob o sol desse carnaval?

[...]orpos. Muitos. Não dava nem pra saber onde começava um e terminava o outro. De todas as cores, de todos os volumes, pesos e medidas; de todos os sexos, de todas as idades. E se beijavam, se acariciavam, se lambiam. Tremiam. Mas foi só um sonho, e não foi um sonho erótico, apesar do apelo. É que fui dormir na noite seguinte pensando sobre o desejo de morder, de arrancar partes, de engolir o corpo do outro. Não dá essa vontade? Quando rola a “química” [que na verdade deveria ser “física”], a gente beija fundo com vontade de deglutir o outro. Eu beijo fundo. Coloquei uma música bem baixa, desliguei algumas luzes – mas não todas, porque gosto de olhar nos olhos quando faço sexo. A gente foi dos carinhos até às práticas mais pervertidas, passando pela malandragem, pelos tapas e pelos xingamentos. Acontece que um kit completo da sacanagem, como esse, assusta: e o susto já dura sete dias. Ontem, ao fechar o sétimo dia de silêncio [já dava pra ter criado um outro mundo!], me revoltei: como faz pra fazer sentido? Como faz pra ligar no outro dia? Sim: pega o número e liga, burra! [Risos!]. Acontece que não é só isso. Tudo está envolvido nesse jogo: é a roupa que a gente escolhe, é o tom da voz, é a bebida que a gente bebe, o bairro onde a gente mora, a profissão que a gente desempenha. Me dei de presente 15 dias de folga da academia e fui viver outras coisas: bebi com muitos amigos, conheci gente nova, falei sobre assuntos dos quais eu não sabia, enfrentei minha fobia de estúdios de TV. E gostei de mim fazendo tudo isso. Me senti bonito como foi o dia de hoje: céu bem azul, sol brilhando sem calor e um vento agradável, quase frio pra um carnaval de março. Carnaval em março é surpreendente! Vento frio em março é surpreendente. Porto Alegre é “demais” com vento frio e com a maioria dos portoalegrenses fora dela. Uma paz, uma tranquilidade, um desejo de me jogar nessa lava incandescente e devagar que vem descendo pelo chão[...]