A tua toalha

[...]em me ligou, nem mandou mensagem, nada. Mas eu esperava por isso, por esse silêncio, esse distanciamento. Ao mesmo tempo em que ele olha bem profundamente, ele sabe se afastar, se dividir daqueles que o querem bem. Mas mesmo assim eu deixei a toalha dele pendurada no varal, tal e qual ele deixou da primeira e última vez que ele esteve aqui. Não! Claro que não! Não esperava que ele voltasse. Na verdade, eu nem queria. Mas deixei a toalha ali, bem penduradinha, na medida em que ele próprio deixou, mais pra me servir como troféu já que todo o resto que ele me fez sentir já foi esquecido. E como a gente é acostumado a esquecer rápido, não? Temos memórias velozes. Mas esse prêmio da toalha no varal é o mesmo que eu faço com os lençóis. Às vezes, quando alguém comovente dorme comigo, eu deixo os lençóis em que aquele corpo dormiu por dias na minha cama! Só pra eu saber que foi ali que o corpo se deitou, que adormeceu. É a minha forma de manter as pessoas perto de mim, é a minha forma de preservar as lembranças. Eu poderia ter outras, concordo, mas o que eu quero mesmo é ter partes dos corpos deles comigo, mesmo que sejam níveis epiteliais que vão escamando. Não: nunca serei um assassino psicopata. Sou apenas alguém que gosta de guardar pedaços de corpos que me cativam. A toalha já está dura no varal, os vizinhos estão comen[...]