E hoje aprendi que .....

É fundamentalmente diferente voltar caminhando pra casa pelo lado da calçada da avenida Osvaldo Aranha, em Porto Alegre, que costeia o parque da Redenção ou que margeia o comércio, residências dos bairros Centro e Bom Fim. Nunca se encontram os mesmos carros, nem os mesmos corpos. A luz do sol é diferenciada: ela incide mais perpendicularmente do lado do comércio e das residências que do lado do parque. O clima nunca é o mesmo, pois posso escolher chegar em casa suando em bicas ou morrendo de frio. O clima sou eu quem faz e pra isso basta eu escolher a roupa e o ritmo com que quero voltar pra casa. As pedras nas quais eu piso, a folha da árvore que cai no meu rosto: nada é igual àquilo que foi na semana passada, nem no dia de ontem. Porque ontem não me caiu uma folha no rosto: ontem eu não tinha rosto, e nem havia ali uma árvore. Porque ontem eu fiz um percurso por cima dos coqueiros da Osvaldo Aranha, saltando de copa em copa. Parei instantes ali em cima dos coqueiros para admirar o parque, o Auditório Araújo Vianna, e lá adiante o sol que já se punha. O sol estava verde ontem, retangular. Eu estava nu para fazer fotossíntese. Quando cheguei em casa, fui bater uma massa de bolo e distribuí, depois de assado, aos/às moradores/as de rua que se avolumam aqui por perto do Supermercado Zaffari e do Hospital de Pronto Socorro. Fiz quatro formas de bolo. Faria mais se minha cozinha suportasse, mas como conto apenas com um fogão à lenha no meu apartamento de um quarto no bairro Bom Fim, precisei racionar minha vontade de ser caridoso.