Desejos

[...]péis amassados, umas coisas sobre as outras, sem importância, sem brilho, sem luz. Por quê? Tu achas que sou assim? Não, não te enganes. Sou mais que um tropeço ou que um escorregão. É claro que dói, que envergonha, mas o que é um escorregão pra quem já está lá no final da escada? É só um jeito de chegar mais rápido! Mijei na rua, recusei drogas ilícitas, olhei pro fundo do chão pisoteado só pensando em ti. Não, não é uma cobrança, é só uma homenagem. Porque se tu soubesses... Talvez nem gostaria, né? Mas olha, é tudo muito bom, viste? O que vem de mim é bom! Não é nada para se envergonhar, como eu caindo da escada, nem nada para esquecer. É aconchegante e tranquilo. É suave. Quem me conhece sabe como isso é raro. Mas não te prendas por isso: vai viver tuas coisas, cair nas tuas escadas. Eu caio nas minhas. Não te cobro, não coloco impostos, não crio culpas. É só meu corpo que te quer, e como tal deve ser tratado como isso que é: um corpo. Sim, e é mais que isso, como já te disse, mas não te preocupes porque não precisas me decifrar. Nada pior que um mistério atrás do outro para viver em paz com alguém. Caí, sim. Mas fui levantado por mim mesmo, e por duas outras pessoas que jamais supus aptas a me levantar. Foi até bonito. Foi caridoso, foi sensível. E meu cotovelo dói, dói... Na parede volumosa do teu precipício, há alguma chance de eu me safar? Na escada longa da tua casa, tem como eu chegar ao quarto? Me machuquei, sim, mas não me importo: eu sei o que é a dor e não é isso que me assusta. Os soluços, os silêncios, isso me desespera. Não vá embora sem antes passar a mão pelos meus cabelos. Não quero nem um beijo, somente uma passada de mão pelos cabelos. Beijo damos em qualquer coisa, mas uma bela passada de mão nos cabelos... E se eu te chamasse pra dormir aqui comigo? O corpo vomitaria? Tudo bem, pode vomitar, eu entendo que não é nada pessoal: mas sorria pra mim com um olhar sincero, queira de mim um abraço, queira de mim uma passada de mão no teu cabelo. Porque tenho mágica nas mãos e mágica na mente, tenho mágica no beijo. Podes não gostar, podes achar muito líquido, muito meloso. Mas é um beijo simpático e sincero. É um beijo que soluça, que é ingênuo e que também sabe ser sedutor. Não desconfies. Não duvides. A dor de cotovelo que sinto pode não ser tua, e se for, eu entendo! Porque não tens a obrigação de me gostar, de me querer. Só quero que tu dance essa dança safada com o olhar cru sobre meu cotovelo. Vou apreciar teu empenho! Mas não tire essa bermuda jeans que contrasta com essa meia, obrigando teus pelos a espremerem-se nessa guerra de masculinidade. Se soubesses o quanto te quero, e o quanto és bonito, não estarias aqui. Se chover, lembra de mim, e se fizer calor saiba que eu tenho ar condi[...]