Os grandes continentes

A ilha vem sofrendo erosões: onde antes corria um rabo de água, agora se vê um sulco na terra capaz de promover uma divisão dentro da própria ilha de Tadzzio. É como se ela pudesse se pulverizar, graças à erosão, em milhares de pequenas ilhotas que não necessariamente seguiriam juntas. Pelo contrário, se espalhariam cada vez mais, sempre na direção contrária dos grandes continentes. Não se sabe se afundariam no mar ou se permaneceriam como ilhotas onde nem um corpo pudesse ficar em pé. Juntas jamais ficariam. Essa fragmentação impossibilita grande parte dos planos que Tadzzio tem para seu pequeno espaço deserto e belo de terra e rochas. Num momento de saudosismo, pensou inclusive em remar de volta ao grande continente, atracar num de seus imensos portos, elefantes brancos, pedindo asilo político como um filho pródigo que volta ao Pai. Tadzzio não pode mentir, dizer que o grande retorno nunca passou pela sua mente ou que o caminho de volta nunca foi cogitado. Também não pode omiti-lo, fingir que o desejo de reintegrar-se às grandes ordens, às grandes lógicas explicativas e justificativas, nunca o visitou; não pode dissimular o eventual desejo de querer ser reinserido e anexado, capturado novamente pelo conforto das grandes cidades nunca foi algo que o deixou sem dormir. Mas na suposta viagem de volta a ilha não deixaria de se desintegrar: a ilha poderá ser desintegrada no mar antes mesmo que Tadzzio possa ser reintegrado aos grandes continentes. Grandes terras coesas, sólidas e fixas, racionais: voltaria pra elas a nado? Nem mais aparecem no horizonte às suas costas! Só água e ele, sob essa terra e essas rochas, num nomadismo obsceno...