A ilha seca

A pequena e bela ilha deserta de Tadzzio está seca. Pararam de correr os rios e de cair as cachoeiras; nem chuva mais cai sobre este solo. É incrível, mas ele tem um medo horrível de água (o que faz com que às vezes diga “eu não gosto de água”, quando é um desespero para ele pensar no seu corpo à deriva), e justamente agora se decidiu que a ilha estaria seca de líquidos. Esta secura, entretanto, não estava suposta no deserto da ilha – a ilha é deserta de muitas, muitas coisas, mas nunca de líquidos. De hoje em diante a ilha está seca de líquidos. Um comichão na altura do estômago pede por líquidos, uma urgência louca e quase incontrolável coça sua boca por dentro, que pede por líquidos. Não há: a ilha está seca, além de estar deserta. Daí que Tadzzio se depara com essa imensidão ainda não habitada que é sua ilha. Há tanto o que ocupar nela, tanto o que correr e despir, idas e vindas pelas praias que margeiam esse alfinete de terra que está se separando dos continentes, se separando dos grandes continentes cheios de planícies e planaltos. A ilha de Tadzzio não está num delta; ela está movendo-se, indo lá adiante. Seca.