Horário de Verão

Me entristece o fim do horário de verão porque tenho a sensação de que tudo volta ao normal. E são raras as vezes em que o normal é sinônimo de bom, não é?

É um domingo com muitas nuvens esse pós-fim-do-horário-de-verão. E o sol, se ele aparece, vai-se embora bastante cedo lá por detrás das nuvens. Coincidentemente, é claro, as pessoas não se encontram mais para caminhar e correr no parque lá pelas 18 horas de qualquer dia entre outubro e fevereiro de qualquer lugar do Brasil entre o paralelo 30 e a Linha do Equador. As pessoas são “cidadãos de bem”, têm de trabalhar, fica muito tarde sair pra se exercitar depois das 18 horas... E só saem pra correr ou caminhar no parque pós-fim-do-horário-de-verão lá pelas 19 horas os cidadãos que não são tão do bem assim, tá, pessoal?

A segunda-feira pós-fim-do-horário-de-verão é sempre tediosa. Anda arrastada, pesada, quente demais. É sempre mais escura que antes e as 20 horas do dia já se debruçam como cortina, pondo um ponto final nas atividades corriqueiras. “Vão pra casa tomar banho, assistir a novela e dormir”, nos diz a normalidade pós-fim-do-horário-de-verão.

Gosto do horário de verão porque tenho a sensação de que sempre há um algo a mais a me acontecer até o dia acabar. Tenho a impressão – e gosto de cultivá-la – de que sempre há tempo para mais uma surpresa, para mais uma ousadia. O pós-fim-do-horário-de-verão não me promete nada; ao contrário, ele ameaça me engolir com sua monotonia.

Só há um anúncio que me agrada com o fim do horário de verão: a sinalização de que, em breve, as folhas vão cair e o inverno vai chegar com dias ensolarados de baixíssimas temperaturas. E mesmo que o sol se retire cedo demais, a noite – tão fria quanto o dia – guarda na sua elegância taças e taças de vinho tinto.