me pegue pela mão, me mostre por onde tu caminhou, aponte para a casa abandonada onde tu e teus amigos costumavam brincar quando eram crianças. me pegue pela mão, me leve às ruas onde tu jogava bola e sapata. me pegue pela mão, passe em frente ao colégio onde tu estudou, contando sobre a vez em que mais te sentiu humilhado, da vez em que por primeiro se apaixonou, da professora que tu mais odiou e da que tu mais adorou, do primeiro amigo e do primeiro inimigo, da porta por onde tu saiu aos dezessete anos e nunca mais voltou. me pegue pela mão, fale sobre o por-do-sol do inverno, sobre o vento frio do inverno, sobre como tu odeia o frio e odeia tomar banho sentindo frio, sobre como tu odeia sair da cama no inverno. me pegue pela mão, conte sobre quando teu pai conheceu tua mãe e como ela roubou dele um beijo e como ele a pediu em casamento. me pegue pela mão, repita a frase que tu pronunciou ao contar a eles que, além de mulheres, tu também gosta de homens. me pegue pela mão, relembre dos apelidos que tu deu para teus irmãos mais novos e também os apelidos que eles te deram. me pegue pela mão, declare teu amor incondicional aos teus irmãos. me pegue pela mão, diga que nunca te sentiu assim com alguém antes. me pegue pela mão, me arraste para tua história, me conte histórias, seja o personagem de múltiplas histórias, mas seja o que tu puder ser e o que tu realmente foi, pegue minha mão e prometa segurá-la mesmo quando não houver mais razão.