mudei toda a disposição dos móveis em mim. resolvi botar a cama embaixo da minha janela e o sofá virado para minha parede. minha nova porta estará sempre aberta: não estou mais recluso em uma penitência, pagando pelo pecado da coragem. não estou mais radicado em exílio. mudei os móveis, mudei a geladeira, mudei as estantes de livro em mim. há uma nova vaga na minha garagem: haverá alguém a estacionar nela. cada cantinho com pó e teias de aranha, cada gaveta enferrujada, cada folha seca em mim mudou de lugar, deslocou-se. minha nova porta não terá chaves. não haverá segredo ou código para entrar em mim. haverá cada pedaço de teto para cada pedido de abrigo, para todas as noites possíveis, para todos os corpos que quiserem descansar ao meu lado.