parei o carro ao sinal vermelho. a faixa de pedestres à frente, o asfalto, os outros carros que aos poucos iam parando ao meu lado e atrás de mim não deixavam dúvidas de que eu estava na cidade, e na cidade grande. nos breves segundos da sinaleira fechada estava confirmada minha experiência urbana, minha experiência entre o concreto e a buzina. a vista da cidade mais próxima do outro lado do rio e suas colunas de fumaça, por do sol refletido nos vidros dos andares mais altos dos grandes prédios: era a cidade, era inegável, que me deixava exultante, cujo brilho do sol - até ele - é metálico. e na minha casa, no meu quarto, nas reentrâncias de tijolo empilhado e de casas amontoadas onde escolhi morar e descansar, reinava o silêncio citadino emoldurado pelos motores à combustão ao fundo. nenhuma pureza, nem do espaço, nem da luz, nem do silêncio. quando o sinal ficou verde, a cidade toda se abriu para mim.