todo impacto dessa massa terrível e cinza se faz em uma parte desconhecida de mim que absorve a pancada, como um colchão pequeno mas vigoroso. não apenas os vizinhos, as suas vozes, os seus tamancos, as suas gargalhadas, as suas crianças, as suas vidas. não apenas as tempestades que batem na minha sacada, que eu vejo chegar, que eu vejo desfazer minha crença num outono primal. tudo é uma barricada de pneus em chamas contra o outro. há essa outra parte, que são os ouvidos moucos, os olhos vesgos, o corpo sincero. sou uma corrente magnética que impede um asteroide gigante de se chocar contra mim mesmo. sou os aneis de saturno embelezando um planeta mórbido. sou uma desorganização que te fascina, que te faz ficar, que te faz querer mais, que te faz estar aqui por perto.