uma semana surpreendente. descobri duas coisas: quem eu julgava me odiar comigo simpatiza; outros, que eu julgava me odiarem, de fato me odeiam. quem eu julgava me julga. é apenas fechando a porta e ficando em paz com o chão, deixando as pessoas partirem, que se pode ouvir as risadas indo embora, os comentários desaparecendo no silêncio do corredor, se afastando. no chão ainda, sendo deixado por quem te despreza. ou, de outra forma, achando formas civilizadas de evitar encontrar o amigo que está namorando e viajando e em lua-de-mel e rico. não seria suportável sem um toque de mau humor. o único mau humor com que consigo (sofregamente) lidar é o meu próprio. o mau humor dos outros considero uma afronta. tudo o que é meu eu suporto com dificuldade. precisamente por isso esta semana foi surpreendente: coisas minhas agradaram quem eu não esperava - minhas aulas, minha voz, minhas ideias, minhas discussões. meu corpo expressou sua mais concreta sinceridade em termos sexuais - novamente. quem gostou, gostou. "Queria ter um namorado, parceiro, pra todas minhas fantasias, mas que houvesse respeito, acho que isso é impossível!", ela escreveu. e é realmente impossível. é realmente intocável, irrealizável. mas ela espera alguém que a absolva daquilo que ela deseja e daquilo sobre o que ela fantasia; o parceiro e o namorado para todas as fantasias não existe. ele, em si, é a fantasia-toda. quantas camadas de dores prévias dessa mulher não recairiam sobre um homem, se acaso ele existisse, que viesse sentar-se no trono de "parceiro". localizar o sofrimento em sua própria medida, sem adicionar nem tirar nada àquilo que lhe dá tamanho, é um descanso imenso. tomar o sofrimento em seu próprio tamanho é fazer as pazes com deus. e liberar as pessoas da nossa história, desvencilhá-las, desconectá-las de nós como um cabo caído e inoperante é seguir. afastar-se dessas pessoas, as arrastadas e pesadas, que carregamos como quem carrega um saco, é também deixá-las flutuar: colocá-las em liberdade de nós. quem carrega peso é tão responsável pelo peso do que a própria pessoa pesada. nesta semana eu liberei três pessoas pesadas da responsabilidade de eu carregá-las. é ainda bonito lembrar que me dei conta disso dirigindo um carro: um peso mais pesado que eu e que me carrega.